Médico professor, possui duas formações: como biomédico e médico. Seu mestrado e doutorado foram ambos pela USP Ribeirão Preto, sendo uma parte do seu doutorado feita na Universidade Paris V num hospital infantil na França. De volta ao Brasil, após defender seu doutorado passou a dirigir um centro de pesquisas que trabalhava com doenças neuromusculares; e sentiu a necessidade de aprimorar sua capacidade de lidar com as pessoas e fez um curso em psicoterapia. Em 1993, começou a trabalhar com educação médica, estruturando diversas escolas médicas. A partir do convite do professor José Lúcio, prestou para o primeiro concurso para docente da faculdade de medicina da USCS, tornando-se o gestor do curso de medicina do campus Centro em São Caetano do Sul (SP). |
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Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)
Núcleo de Pesquisas Memórias do ABC e Laboratório Hipermídias
Depoimento de João Carlos da Silva Bizario, 47 anos.
São Caetano do Sul, 5 de setembro de 2017.
Pesquisador: Luciano Cruz
Equipe técnica: Ileane da Silva Ribeiro
Transcritora: Ileane da Silva Ribeiro
Pergunta:
Eu queria que você começasse falando nome completo, local e data de nascimento.
Resposta:
João Carlos da Silva Bizário. Sou nascido em Mococa, Estado de São Paulo no dia 16 de fevereiro de 1970.
Pergunta:
Fala então um pouquinho sobre o curso de medicina da USCS, os seus diferenciais e o que as pessoas precisam saber sobre este curso.
Resposta:
O curso de medicina da USCS, o primeiro ponto a ser destacado, é que ele está alinhado ao o que há de mais moderno em termos de educação médica no mundo. Então acompanhamos o que acontece muito mundialmente em termos de educação em medicina. Educação médica hoje é uma área da ciência onde tem uma vasta produção científica sobre a formação do profissional médico, experiências mundiais valiosíssimas e nós estamos em contato com isso. Então nada feito dentro da USCS é feito por invencionismo, ou da cabeça de pessoas que pensam de maneiras diferentes, mas o nosso curso é sólido porque ele é referenciado em evidências científicas em educação médica. Então a gente tem um curso que hoje ele é amparado por aquilo que se faz de melhor nas melhores práticas no mundo em termos de formação de médicos.
Pergunta:
A metodologia que a gente usa é o PBL né?
Resposta:
Isso. Nós não só utilizamos o PBL, então além dessa questão de referência mundial em educação médica, a nossa principal referência, lógico em termos de Brasil são as diretrizes curriculares de medicina, atualmente as de 2014 que são as mais atuais que estão alinhadas também neste contexto da educação médica mundial e que apontam para a utilização da metodologias ativas de ensino e aprendizagem. Uma delas é o PBL, problem-based learning, aprendizagem baseada em problemas, mas ela não é a única metodologia. Então hoje a gente pode chutar mais de 10 metodologias ativas que nós utilizamos dentro do curso de medicina da USCS. Então para cada tipo de aprendizagem, competência que a gente quer desenvolver no estudante, cada habilidade de cada conhecimento nós temos um conjunto de metodologias ativas que são mais eficientes para desenvolvimento dessa competência. Então hoje nós temos um curso muito rico nisso para simplesmente dizer PBL, ele utiliza-se no PBL como uma de suas ferramentas de ensino-aprendizagem uma das principais que nós utilizamos, mas está longe de ser a única ferramenta, nós utilizamos muitas outras.
Pergunta:
Fale um pouco das metodologias ativas, o que elas diferem se das tradicionais?
Resposta:
Uma das coisas importantes quando a gente fala de metodologia ativa, essa palavra ativa, já caracteriza bem o que é: é tirar o aluno daquela posição passiva de estar sentado numa sala de aula recebendo informação que trabalha basicamente a memorização de informações. Então é um professor falando informações para o estudante e o estudante passivo quase nunca questionando aquelas informações, absorvendo aquilo e mostrando numa prova. Muito ao contrário, o nosso curso aqui desde a entrada do estudante no vestibular no curso, no primeiro semestre dele ele já ativamente ele constrói o perfil do médico que ele deseja ser. Então os professores que são facilitadores da aprendizagem eles propõem uma série de atividades logicamente que dirigidas muito bem planejadas planejadas coletivamente em que o estudante então ele vai em busca do conhecimento. Então é diferente de você ficar sentado recebendo uma informação O estudante aqui ele vai em busca da construção do conhecimento porque nós temos as metodologias ativas como base pedagógica o construtivismo principalmente dentre outras linhas então estudante é o tempo inteiro provocado a sair desse estado de inércia na sala na sala de aula e buscar informações e executar atividades então o estudante é inserido desde a entrada no curso nas unidades básicas de saúde então ele já entra em contato com os pacientes com as equipes de saúde ele já discute casos clínicos desde a entrada no curso. Então é muito diferente de um curso tradicional em que ele aprende só anatomia, histologia, Então isso é muito estante para o estudante de uma realidade em que estamos em 2017. um estudante da era digital em que as informações estão por aí e todas espalhadas ficar sentado recebendo informação ou memorizando informação. então a vivência aqui no nosso curso ela é muito importante e esse estudante ele tem vivências na realidade nas unidades de saúde vivências dentro dos laboratórios de simulação realística que nós temos de alta tecnologia alta fidelidade nos consultórios de habilidades médicas no laboratório morfofuncional ou seja ele tem múltiplas vivências laboratório de técnicas cirúrgicas, nos Laboratórios que utilizam de tecnologias virtuais. também aonde ele é preparado o tempo inteiro para desenvolver as competências médicas e principalmente se preparar melhor para o contato com as pessoas. É um estudante que desde o começo ele tem junto com os nossos docentes o desenvolvimento de habilidades em comunicação, o que é uma coisa importante. o médico hoje que não sabe conversar com seu paciente ele praticamente não sabe atuar com o seu paciente, então nós temos também desde a entrada esse contato direto com a profissão então está muito distante de mim de um curso tradicional, um curso que propõe fazer inovações mas elas não são consolidadas. o nosso aluno aqui ele tem todo um aporte para que ele tenha um grande projeto de vida de ser um médico de excelência e USCS seja capaz então de fornecer ferramentas para que ele construa esse projeto [7’].
Pergunta:
Legal você citou aí a metodologia e você também falou da infraestrutura, citou alguns laboratórios... Nós acabamos de dar uma olhada e não tem como não ficar impressionado ao constatar a infraestrutura que os alunos têm disponível na universidade. Queria que você falasse um pouquinho desses destaques em que diz respeito à infraestrutura.
Resposta:
Então vou falar um pouquinho sobre a estrutura que nós temos dentro da Universidade né Lembrando que ela não tem sentido nenhum quando a gente pensa nela isoladamente Ou seja quando pensamos na estrutura de uma universidade e não pensa no que isso reflete nas necessidades em saúde da população. Então a gente sempre tem que pensar nessa questão da transposição do conhecimento em termos de responsabilidade social em termos de de atender a sociedade da população. Então aquilo que a gente tem aqui dentro além de estarmos oferecendo e isso como uma ferramenta para construção do profissional em excelência de medicina a gente também está oferecendo isso para garantir a segurança dos pacientes então quando a gente fala laboratório de simulação realística Então hoje nós temos robôs de alta tecnologia de alta Fidelidade que é o que temos de mais próximo do real. Então hoje nós temos robôs que são sensíveis a droga, que falam que fazem condições clínicas diversas e variadas que interagem com os estudantes por exemplo urso doente aí sim vai ser capaz desenvolver a competência que ele precisa desenvolver nos simuladores sejam eles de de baixa alta o altíssimo fidelidade por exemplo e assim que ele se tornará competente para executar esta tarefa aí ele estará apto abordar um paciente e executar algum procedimento no paciente. Então quando a gente fala nessa infraestrutura diferenciada que a gente tem dentro da USCS: laboratório de habilidades médicas onde nós temos 12 consultórios para que o estudante desenvolva além das destrezas em realizar procedimentos que sejam simples desde aferir a pressão arterial fazer uma ausculta pulmonar ausculta cardíaca ou qualquer coisa mas que ele aprenda a conversar com os pacientes a gente tem os pacientes atores eles trabalham entre eles os facilitadores dentro desses consultório simulados então eles já se preparam nesses ambientes simulados para que quando estiver em frente a frente com o paciente realmente quando estiverem na comunidade equipe de saúde ou fazendo qualquer procedimento que eles tenham segurança do que estão fazendo então mais do que olhar uma infraestrutura altamente qualificada como nós temos a gente tem que entender o porquê nós dessa infraestrutura na formação do aluno e o significado disso para quando esse aluno sair daqui vai em contato com a população seja ela de São Caetano ou qualquer outras pessoas que venham entrar em contato com os nossos estudantes. Então é uma questão de segurança para o paciente então trabalhar em ambiente simulado então trabalhar em ambiente simulado ambiente virtual ambientes realísticos é muito importante para aprendizagem e é importante sim para a atenção que eles dão ao paciente. [10’].
Pergunta:
Bizario, sempre quando eu vou conversar com meus alunos seja aqui na universidade seja em feira de vestibular com candidatos ao vestibular sempre que eu vou falar da importância do ensino da pesquisa e da extensão eu sempre uso o curso de medicina como exemplo, Porque para mim é onde isso está mais claro. então queria que você falasse um pouco como hoje o curso de medicina atua em termos de extensão Universitária. e eu vou pedir para que você fizesse isso, tanto de uma forma geral quanto especificando como são esses trabalhos na UBS. que é uma dúvida sempre que ligam para gente candidato do curso, “pois vem cá, aonde é que eu vou estagiar? Como é que isso vai funcionar?”. E depois se atendo mais especificamente ao centro ambulatorial universitário recentemente inaugurado.
Resposta:
Então como Eu mencionei a gente começa a dar entrada no curso de medicina além da aprendizagem que ele faz aqui dentro do campus dos laboratórios. cada pequeno grupo de estudantes ele é acolhido dentro de uma unidade básica de saúde de São Caetano, ou seja ele passa a fazer parte de uma equipe de saúde, dentro daquilo que Ele é competente para fazer. então inicialmente esse aluno logo na entrada ele vai fazer o que? ele vai conhecer a comunidade, ele vai conhecer a equipe, ele vai conhecer Como funciona o SUS, como funciona a saúde local, ele vai analisar quais são as necessidades daquela população. Isso já na entrada. Então nós temos alunos que acabaram de entrar que fazem visitas domiciliares nos domicílios dos pacientes junto com agente comunitário, junto com médico, junto com o enfermeiro, planejam ações de saúde para a população. Então a gente tem um uma forte tendência a extensão, né, principalmente a partir dessa vivência que é um programa que a gente chama de IESC integração, ensino, serviço e comunidade aonde os nossos estudantes e professores eles vão Então para essas equipes de saúde aonde os Estudantes têm essas vivências sempre pensando no benefício da população. Um exemplo por exemplo se eu sou um estudante e mapeio que na minha região o problema de verminose é muito importante tem uma importância Grande eu vou ajudar a minha equipe eu vou junto com a minha equipe de saúde real lá da unidade planejar ações de saúde que possam impactar nesse dado e depois vou Colher informações. No semestre passado se nós tivermos uma mostra de saúde aqui onde vieram todos os representantes das unidades de saúde os estudantes os professores e cada grupo apresentou então aquilo que está levando para a comunidade de contribuição e nós ficamos extremamente impressionados com o que nós temos potencial para fazer pela saúde da população. então esses estudantes mesmo recentes, Eles já são agentes Transformadores da realidade e que impactam na saúde do Cidadão E conforme eles vão evoluindo no curso segundo semestre, terceiro, quarto… cada vez mais instrumentalizando nos Laboratórios de simulação, como eu já citei aqui, eles vão sendo capazes de levar mais recursos para população ou a própria população demanda de repente a equipe de saúde fala para um grupo de estudantes “Olha eu queria fazer uma campanha de Papanicolau aqui na minha área de abrangência” os alunos vêm para cá, eles aprenderam simuladores, traz aqui para cá também toda lição, treinando os capacitados a fazer isso e depois eles voltam e vão fazer na população e colher os resultados dessa ação então começa já desde o início do curso. A partir do 5º semestre mais ou menos o estudante além da unidade de saúde que ele permanece desde o primeiro semestre até o último, até a formatura dele, a gente tem a inserção dos ambulatórios de especialidades médicas aonde nós usamos os espaços dos ambulatórios de São Caetano e que recentemente nós inauguramos um centro ambulatorial universitário junto com o prefeito, o nosso reitor, a secretaria de saúde e as autoridades de São Caetano aonde Nós criamos dentro Hospital São Caetano um grupo de ambulatórios de especialidades médicas. atualmente são 11 especialidades médicas e pretendemos expandir isso, que na verdade estão interligados com esse programa IESC das unidades básicas de saúde. E é um funcionamento um pouco diferente de um ambulatório de Especialidades comum. Ambulatório de Especialidades comum ele abre suas portas no médico ficar lá com legenda geralmente está super dotada em todos os lugares a gente tem que dar Espera de um ano dois anos para poder ser atendido numa especialidade médica a lógica Que Nós pensamos aqui dentro do curso junto com a Secretaria de Saúde foi que os nossos docentes especialistas do ambulatório ao invés de ficar no dentro do ambulatório esperando a população chegar eles vão até a população Esse é o grande diferencial do nosso ambulatório do ambulatório universitário. O que seria que nós chamamos de matriciamento. então nosso docente vai junto com nossos estudantes na unidade de saúde discutir os casos com a equipe de saúde, então nós temos algumas Vertentes aí. primeira, é um especialista indo levar informação para equipe da unidade básica de saúde isso é um programa de desenvolvimento de conhecimento para a equipe de saúde levar informação para equipe da unidade básica de saúde que seu problema de desenvolvimento de conhecimento para equipe de saúde então quando um especialista vai até lá escute um caso com médico de família ou um clínico que não consegue resolver ali ao invés de lhe encaminhar para um ambulatório o nosso especialista vai lá e discutir o caso com ele então ele está levando o conhecimento para equipe de saúde nisso o aluno também está presente ele também está ajudando nessa formação e só os casos que realmente precisam de seguimento ambulatorial que um nível mais especializado aí esses sim são encaminhados para o nosso ambulatório. Então simplificando um pouquinho esse fluxo, a gente sai do ambulatório de especialidade vai a população ali a gente busca aqueles casos que realmente preciso do ambulatório então agenda do ambulatório é montada A partir dessa busca na população e aí eles vão para fazer o atendimento dentro do ambulatório mas aqueles casos que podem ser resolvidos na unidade de saúde já são resolvidos na unidade de saúde. Hoje nós temos até por depoimento da nossa Secretaria de Saúde um excesso de encaminhamento para ambulatório. A gente até sabe por dados da literatura que as unidades básicas de saúde deveriam resolver de 80 85% dos problemas de saúde e aqui em São Caetano essa meta está muito longe de ser atingida então o que a gente tem muita maior parte de encaminhamentos. Então se eu tenho que resolver 80% ali, 15% eu encaminho para o ambulatório e 5% encaminho para Hospital de alta complexidade. Então a nossa intenção é melhorar a resolutividade da atenção primária, da atenção básica. Então não tem simplesmente o papel que a gente vê muito em escolas de medicina de colocar o aluno para ficar tocando serviço e atendendo paciente sem muitas vezes nem compreender o que está acontecendo.Não, eles (nossos estudantes) vão até a comunidade entender as condições de moradia, as condições sociais, as condições psicológicas, o caso em si, abordar o paciente, discutir com a equipe de saúde e depois sim eles fazem o atendimento. Então é um grande diferencial que nós temos hoje dentro do curso de medicina é esse centro ambulatorial universitário. Ele está começando agora, então logicamente a gente está aquecendo os motores, nesse momento a gente tá inserindo esses docentes, essas equipes nas unidades de saúde então eles estão sendo apresentados, já estão começando a examinar alguns casos começando a ir para o centro ambulatorial. Mas a gente espera uma resposta muito boa e um impacto muito positivo para a saúde de São Caetano.
Pergunta:
Deixa eu ver se eu entendi. Você é morador de São Caetano, aí eu tenho.. sei lá um problema, sei lá, uma sinusite, alguma coisa e eu vou procurar o posto, uma unidade básica de saúde. Fui na unidade de saúde, marquei a minha consulta e no dia da consulta eu fui lá e fui atendido pela equipe de saúde dessa unidade básica de saúde da qual o estudante da USCS faz parte. Ao ser atendido, um professor da universidade do nosso centro ambulatorial universitário acompanha também este caso, ele vai ajudar a equipe a se decidir se o meu problema pode ser resolvido ali na unidade mesmo. Se for, eu já tenho ali um retorno e resolvo o meu problema ou então essa equipe de saúde com o auxílio do professor da universidade me encaminha aí sim pro centro ambulatorial, e aí numa nova data a ser marcada, eu vou até o hospital São Caetano e sou atendido na Unidade Ambulatorial relacionada ao meu problema . [20']
Resposta:
Sim.
Pergunta:
E aí eu continuo fazendo o meu tratamento lá no Hospital São Caetano.
Resposta:
Isso e depois você é referenciado de volta para a sua unidade de saúde assim que você tiver o seu problema resolvido , se ele é um problema a ser tratado com um especialista. O especialista assim que resolver o seu problema, ele devolve você para a sua área de abrangência e sua equipe de saúde, da unidade de saúde.
Pergunta:
...que conhece melhor porque todo o meu quadro clínico …
Resposta:
Que sabe toda a sua história, a história da sua família e tem muito mais condições de fazer um acompanhamento próximo de você do que simplesmente uma visita pontual ao especialista.
Pergunta:
Bacana! Então a porta de entrada, continua sendo a Unidade Básica de Saúde?
Resposta:
Sempre, sempre a Unidade Básica de Saúde. E aí a equipe de saúde de lá junto com o clínico ou o médico de saúde da família que fez o atendimento, é ele que vai selecionar esse caso para ser discutido com o especialista ou não. A decisão sempre é da equipe, para deixarmos claro que não é também os nossos professores indo tirar a autonomia da equipe de saúde, não. É a equipe de saúde que demanda para a gente que eles precisam de uma ajuda do especialista para avaliar um determinado caso. Se ele pode ser resolvido lá ou se ele precisa ser encaminhado.
Pergunta:
Eu queria que você falasse um pouquinho de você agora. Fala um pouquinho sobre como foi a sua trajetória , como foi.. acho que é óbvio, que os alunos sempre perguntam este momento da escolha da profissão, se isso já estava muito claro para você. Fala um pouquinho sobre essa trajetória de vida.
Resposta:
A minha trajetória , ela é bem .. até complexa porque na verdade eu tenho duas formações: eu sou biomédico e eu sou médico também. Eu sou psicoterapeuta e no meio dessa trajetória eu fui fazendo coisas aí adicionais, mas na verdade eu comecei a minha carreira profissional na faculdade de Biomedicina, né, eu sou de Ribeirão Preto e dentro da biomedicina eu já comecei a trabalhar mais na área clínica. O meu mestrado e o meu doutorado que foram feitos na faculdade de medicina da USP de Ribeirão Preto , o doutorado foi feito uma parte na França na Universidade de Paris V(cinco) num hospital infantil lá na França; sempre foi voltado para a área clínica. Nessa época, eu trabalhava com células tronco e terapia gênica para imunodeficiências. E voltando para o Brasil, assim que eu defendi o meu doutorado, isso foi em 1999 mais ou menos, eu comecei a dirigir um centro de pesquisas que trabalhava com doenças neuromusculares. E esse centro de pesquisas era ligado a USP de Ribeirão, tinha a universidade de Ribeirão Preto e tinha o patrocínio principal da Petrobrás, da FAPESP e da Finep. Então, a gente tinha lá pesquisas na área de células tronco, terapia gênica e busca de novos medicamentos para tratar doenças neuromusculares com ênfase na distrofia muscular. E nessa época, eu comecei a entrar muito em contato com as famílias dos pacientes; tínhamos 300 famílias cadastradas lá com os pacientes, eram crianças na cadeira de rodas, em ventilação mecânica, os familiares sofrendo com aquela condição e eu percebi que eu precisava melhorar ainda mais a minha capacidade de lidar com pessoas, foi quando eu procurei uma formação em psicoterapia. Fui fazer um curso de sete anos, me formei como psicoterapeuta e nessa época eu também, depois da minha formação que acabou sendo toda a minha pós graduação em medicina... então eu já tinha todas as disciplinas que eu fiz no meu mestrado, no meu doutorado, essa coisa toda e a minha pesquisa toda voltada na área médica na França, como não existe biomedicina lá, eles me inseriam dentro das equipes médicas. Aí eu voltei para o Brasil e fui concluir o curso de medicina e me tornei médico também para poder atuar mais proximamente aos pacientes. Antes disso em 1993, quando eu comecei a dar aula na verdade, eu já comecei a trabalhar com educação médica. Então educação médica, ela entrou na minha vida antes mesmo da minha formação como médico.lo[26'] Então eu ajudei a estruturar uma série de escolas médicas no país, eu fiz parte de um grupo bem forte que liderou as mudanças da educação médica no país, isso a partir do final da década de 1970, a gente teve oportunidade de montar uma das primeiras escolas que trabalhou com metodologias ativas e que trabalha com metodologias ativas que foi também no interior de São Paulo. E a partir disso, isso virou uma paixão para mim também, né. Então hoje eu me divido entre a USCS, o meu consultório, a educação médica, eu faço parte de duas comissões no Ministério – uma no Ministério da Educação e outra no Ministério da Saúde, em 1997 eu me tornei consultor do Ministério da Educação nessa área de educação médica, e segui sempre ajudando aí na avaliação da qualidade das escolas de medicina, nas mudanças curriculares, na implantação de cursos de medicina; e atualmente eu faço parte da comissão nacional de avaliação e monitoramento das escolas médicas, uma comissão chamada CAMEM. São poucas pessoas, foi criada pelo Ministério da Educação para poder fazer um monitoramento e acompanhamento da qualidade das escolas médicas no país. E junto com isso, uma outra comissão que é a comissão de credenciamento de hospitais de ensino. Então quando eu falei que a minha formação é muito diversificada, porque realmente ela foi criando braços aí e caminhos que foram me levando para lugares diferentes. Eu gosto da minha trajetória ser dessa maneira; procuro para que ela seja o mais diversificada possível porque eu acredito que as vivências quando elas são diversas, elas nos trazem uma bagagem muito mais ampla e um hall de atuação muito mais amplo, mas desde que elas sejam profundas! Não adianta termos vivências superficiais que não te acrescentem nada, mas eu procurei ao longo desse tempo aí ter as vivências mais diversificadas que eu pudesse ter. Já trabalhei em outras escolas, fui coordenador em outras escolas, fui diretor de uma multinacional de educação que é a Laureate, era diretor executivo... o meu chefe era o Bill Clinton, um dos grandes diretores lá dentro da Laureate e a gente cuidava aí do Brasil inteiro de todas as escolas do Brasil ligada a 32 países países numa rede de educação muito grande. Então eu tive essa oportunidade também de trabalhar no âmbito Mundial de educação. E é a minha paixão mas eu procuro sempre adicionar a minha paixão outras paixões, Então essa é mais ou menos a minha trajetória.
Pergunta:
Primeiro eu tenho que fazer as contas aqui e pelos meus cálculos a sua graça não foi com 5, 6 anos.
Resposta:
(risada) Eu já falei a minha data de nascimento, então... Então eu tô quase fazendo 50.
Pergunta:
Depois eu vou fazer melhor essa conta… Eu queria que você falasse da USCS, como foi que apareceu alguns quis nesse caminho todo?
Resposta:
A USCS, na verdade quem montou, ajudou a estruturar o curso de medicina da USCS junto com o nosso reitor, o professor Bassi, foi o professor José Lúcio. Eu tenho uma história de trabalho com professor José Lúcio de muitos anos, mais de 20 anos trabalhando juntos na questão da educação médica. Então na verdade partiu de um convite dele para que eu viesse para USCS e nessa época eu prestei o concurso para entrar aqui para docente foi o primeiro concurso para docente que teve da faculdade de medicina. Fui aprovado aí na área que eu prestei eu fui o primeiro a ser aprovado e comecei então a trabalhar na implantação do curso aqui junto com ele né. Atualmente o professor José Lúcio está como o gestor do curso da Bela Vista e eu fiquei aqui como gestor do curso São Caetano. [30’]
Pergunta:
Já desculpando que eu estou estourando o tempo aqui que a gente tinha combinado mas o papo tá muito bom. Eu queria que você falasse um pouquinho, né a gente já tocou na Uscs que você sabe que ano que vem completa 50 anos de história né. Ela é uma jovem Universidade, no curso de medicina também é uma novidade ainda para gente, mas ela já tem uma tradição aí desde 1968. Queria que você falasse um pouquinho para você: O que representa a USCS? O que é a USCS? E como que você apresentaria a USCS para alguém que não conhece a universidade?
Resposta:
A USCS hoje em dia para mim, ela é uma grande paixão. Eu encontrei dentro dessa universidade um cenário e condições de realmente viver o meu sonho de estar inserido dentro de um curso de medicina de excelência tendo encontrado completo as condições para que isso aconteça tudo aquilo que a gente propõe de melhoria… [interrupção técnica]
Pergunta:
… a fase da Universidade. O depoimento vai ser bem bacana. Óbvio que a gente vai colocar um trechinho lá no portal.
Resposta:
Claro, claro fica um registro.
Pergunta:
Desculpa, mas você estava falando sobre a importância da universidade e de tudo que você encontrou aqui.
Resposta:
Voltando a falar, aqui a gente encontrou um cenário para quem tem um sonho pessoal como eu tenho, estruturar um curso de medicina de excelência que realmente... isso é um trabalho que eu comecei na década de 90, em direção a formar médicos que sejam realmente capazes de atender a necessidade de saúde das pessoas que consiga realmente atender as pessoas dentro daquilo que elas precisam. Eu vejo dentro da USC uma possibilidade muito grande da realização desse sonho, a universidade é altamente engajada, comprometida com a população, altamente engajada e comprometida com a formação de excelência e eu vejo nossos estudantes em cada estudante que eu vejo, eu vejo um grande potencial de estar realizando esse sonho meu que é a melhoria da saúde das pessoas. Esse é um sonho meu, particular, e que eu vejo sendo realizado por uma grande instituição como é a USCS. Se a gente for olhando para cada pessoa que faz parte do corpo administrativo, do corpo gestor, do corpo de apoio, a cada estudante que está passando pela sua formação, eu consigo enxergar que o objetivo fim que é esse que a gente tenha um mundo melhor e que a gente tenha pessoas sendo tratadas da maneira que elas merecem serem tratadas como seres humanos, acolhidas em suas necessidades… isso para mim é o que mais me satisfaz e eu encontro aqui na USCS um campo extremamente fértil para realizar esse sonho.
Pergunta:
Já agradecendo mais uma vez, me desculpando novamente pelo estouro do horário e não informar adequadamente que íamos fazer a gravação em vídeo. E deixar para ver se tem algo mais que você gostaria de aproveitar e falar uma coisa que faltou e você achou importante deixar registrado, tanto para expor no site da USCS como no projeto de memória da universidade.
Resposta:
Eu acho interessante esse momento que a gente tá vivendo muito interessante porque as coisas não param no curso e a gente já está implantando novo internato médico. Nós estamos no oitavo semestre do nosso curso, no semestre que vem esses estudantes já estarão indo para o internato e a gente vem com uma novidade muito muito muito boa. Eu não posso revelar neste momento… (risos) dos parceiros aonde nós realizaremos nosso internato. Logicamente que o nosso foco é São Caetano, então a gente tem todos os complexos hospitalares aqui: temos o hospital de Emergências, os demais hospitais da cidade aonde os nossos alunos, os nossos internos estarão inseridos dentro dos serviços. Logicamente fazendo essas sequências: se um aluno entrou aqui trabalhando na unidade básica, passando pelos ambulatórios, é logicamente que ele vai reencontrar essas pessoas a que ele se vinculou na comunidade ele vai reencontrar essas pessoas lá dentro da alta complexidade no hospital. Então eu acho que é o fechamento de um ciclo, o estudante poder ver essas pessoas que ao longo dos anos elas adoeceram, elas recuperaram a saúde, algumas morreram, algumas nasceram... toda essa dinâmica da saúde que nós temos e de repente eles vão encontrar aquela pessoa que eles fizeram a visita domiciliar lá na entrada do curso, no hospital em algum procedimento. Então nós temos o foco aqui e nós temos outras parcerias que nós estamos nesse momento também trabalhando. Em breve a gente vai ter um grande encontro para poder lançar o internato médico da USCS, mas é um momento que seria legal a gente revelar o que nós estamos agora vivenciando que é estruturação do internato que é a finalização do nosso curso. [36’]
Pergunta:
Perfeito! Mais uma vez obrigado.